Saramago acredita que "Caim nunca existiu". - "tudo aquilo é absurdo, disparatado". Julga, porém, que isso "é indiferente". "A Bíblia tem uma influência muito grande na nossa cultura e até na nossa maneira de ser. Sem a Bíblia seríamos outras pessoas - provavelmente melhores", disse.
Para "abrir o apetite" dos presentes, o autor contou um bocadinho do livro. Condenado à errância, Caim conhece Lilith, "uma devoradora de homens" ( que "forçou" Saramago a, "pela primeira vez" na sua vida, "escrever páginas eróticas"). Quando dali parte cruza-se com outras personagens bíblicas, como Abraão. Saramago inventa-lhe "um outro presente" para recontar meia dúzia de episódios violentos e sustentar que Deus é cruel, vingativo e enlouquecedor.
A Bíblia, reiterou, é um livro impróprio para crianças, "um manual de maus costumes". "Sempre disse que nunca inventei nada. Limito-me a pôr à vista. E, de certo modo, é o que faço com este livro", declarou. Apesar de tudo, está convencido de que Caim "é um livro divertidissímo". E que a Igreja Católica não se incomodará. Os católicos pouco ligam ao Antigo Testamento. Quem se poderá incomodar serão os judeus. "Não é contra Deus que escrevo, uma vez que Ele não existe. É contra as religiões. Para que servem as religiões? Não servem para aproximar as pessoas. Nunca serviram." outubro 2009