“Pedimos permissão às tropas de ocupação e à comunidade turco-cipriota para restaurar as nossas igrejas com os custos a nosso cargo e para possibilitar o retorno de seis monges com mais de 80 anos de idade ao Mosteiro de São Barnabé localizado nas áreas ocupadas do norte”, é o apelo feito no Chipre pelo Arcebispo da Igreja Ortodoxa, Chrysostomos II, tornado público num comunicado de imprensa de 16 de Julho e enviado à Agência ECCLESIA.
“Queremos parar a deterioração, sensibilizar a comunidade internacional, recuperar as obras de arte para poder restaurá-las e conservá-las”, acrescentou Chrysostomos.
“Queremos que nossa civilização seja respeitada. Se os turcos pensam que aqui, entre nós, há mesquitas em mau estado, estamos prontos a restaurá-las, mas eu não creio que assim seja, porque estão todas bem conservadas”.
O apelo é lançado por Chrysostomos II, Arcebispo da Igreja ortodoxa do Chipre, que no passado dia 16 de Junho foi recebido pelo Papa.
A situação das igrejas na área ocupada pelos turcos é dramática. Um censo demográfico calcula que existam 520 edifícios sacros no Chipre do Norte, entre igrejas, capelas e mosteiros. Desses, alguns dos quais arménios e maronitas, 133 igrejas, capelas e mosteiros foram profanados - convertidos em depósitos militares, estábulos, discotecas e mesquitas -, 78 foram convertidos em mesquitas, 28 são utilizados para fins militares e instalação de hospitais e 13 estão a ser usados como depósitos. Cerca de 15.000 ícones foram extraídos ilegalmente e encontram-se no mercado clandestino internacional de arte.
O Património cultural destruído contempla frescos que remontam ao ano 500 D.C., a maior parte datam da época bizantina.
Chrysostomos II também solicitou à comunidade turco-cipriota a permissão para o regresso de seis monges expulsos, durante a ocupação, do mosteiro de São Barnabé, em memória do apóstolo que evangelizou a ilha junto a São Paulo, dado que os mesmos desejam terminar seus dias nesse mosteiro. Porém, até ao momento não receberam nenhuma resposta. A questão também foi colocada em discussão no Conselho de Segurança da ONU.
Na sua recente visita a Roma, o Arcebispo teve o apoio do Papa, que assegurou fazer todo o possível para chegar a uma solução do problema. O Arcebispo lançou o apelo também à Conferência Episcopal Italiana, através do seu presidente D. Angelo Bagnasco e expôs o problema à UE para a aplicação dos direitos humanos por parte dos turcos, recebendo garantias do Presidente do Parlamento Europeu Hans-Gert Poettering, do Presidente da Comissão Barroso, do Presidente do Conselho italiano Romano Prodi e sobretudo do chanceler alemão Angela Merkel.
Em entrevista à Rádio Renascença o Arquimandrita greco-ortodoxo, Padre Sotiriadis confirmou que o arcebispo Crisóstomus entregou ao Santo Padre um grande álbum com fotos das Igrejas, como eram dantes e como são agora. “O Papa assustou-se, porque deixam ruir tudo e arrancam tudo. Arrancaram milhares de ícones e imensos mosaicos e frescos e levaram-nos para a Europa e Estados Unidos, para os vender”.
“No total são mais de 500 monumentos. Uns foram profanados, transformados em discotecas, em depósitos, outros transformados em mesquitas. Monumentos e sobretudo as igrejas, deixam-nas ruir”, lamentou.
O Arquimandrita greco-ortodoxo considera ainda que esta é uma questão política e alerta que “quando vieram para a Europa, o mesmo poderá acontecer”. E finaliza dizendo que “a Europa já não tem personalidades, nem políticos com fé cristã capazes de resistir a isto. É um momento muito crítico para o cristianismo na Europa”.
Internacional | Lígia Silveira| 19/07/2007 | 16:47 | 3611 Caracteres | 296 | Europa
(Agência ECCLESIA.)