O ESPÍRITO SANTO NA PRÁTICA LITÚRGICA DA IGREJA
Metropolita Jeremie da Suíça
A revelação divina ao homem é o facto da vontade de Deus todo poderoso e soberano do universo. Como sabemos,ela é realizada progressivamente no Antigo Testamento, e com a encarnação dos Filho e Verbo de Deus, nosso Senhor Jesus Cristo. A repetição desta comunicação foi operada pelo amor, "dado que Deus é amor", que nós somos "enraizados e fundados no amor" e de acordo com a capacidade de receber do homem , primeiro do leite, como criança e não podendo seguir um raciocínio sobre o que está certo, seguidamente o alimento sólido, tendo pela prática, os sentidos no exercício do discernimento, do que é bom e do que é mau . Consolidada pelo corpo e sangue de Cristo, contendo a Graça do Seu dom, sendo essencialmente o corpo e o sangue de Cristo, e por conseguinte Igreja de acção de graça, a Igreja é consumada no Espírito Santo. O desígnio perfeito da Revelação leva-nos à terceira pessoa da Santíssima Trindade, o Espírito Santo, do qual não fazemos talvez suficientemente a experiência na nossa vida e do qual não sentimos tanto quanto necessário a sua presença contínua. De acordo com o Evangelho de são João, Cristo transmite aos seus discípulos a promessa de lhes enviar o Espírito: "Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador , para que fique convosco para sempre;O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco,e estará em vós. " (4) O Espírito de verdade, o Espírito da completa revelação , a iluminação das nossas almas, a presença contínua de Deus entre os cristãos que crêem, Que se revelou ao mundo em Cristo Jesus e no Espírito Santo e ao Qual os fieis Glorificam no Pai, no Filho e no Espírito Santo. Desde a sua criação, mediante a liturgia, a Igreja formula e confessa a fé inabalável da sua criação e da sua existência, nomeadamente em concílios ecuménicos. Sendo universal, esta expressão litúrgica apoia e alimenta o seu povo. Fornece-lhe todos os elementos da vida sacramental, a sua santificação, a sua edificação e o seu cumprimento. A pregação do divino, o carisma do Verbo faz parte integrante do culto. Deve ser centrada em Cristo (cristocentrico), reflectir a luz e a inspiração do Espírito Santo mediante as quais o homem é conduzido à sua realização. Um outro elemento é o que chamamos o Credo, ou seja o símbolo de Niceia-Constantinopla (325, 381) pelo qual é recapitulada e confessada a fé comum em só um Deus, o Pai todo poderoso, criador do céu e da terra, do universo visível e invisível; em um só Senhor, Jesus Cristo, o Filho único de Deus; e no Espírito Santo, que é Senhor e que dá a vida, que procede do Pai, que, com o Pai e o Filho, recebe a mesma adoração e a mesma glória, que falou pelos profetas. Esta confissão de fé é celebrada e santificada na Igreja una, santa, católica e apostólica. Através desta fé legada e vivida o cristão caminha para a sua realização. A doutrina do Espírito Santo governa completamente o percurso da Igreja durante os vinte séculos da sua existência. O Novo-Testamento, fonte que recapitula o ensinamento do Senhor, fornece-nos inúmeras citações ao Espírito Santo, a terceira Pessoa da Santíssima Trindade, que leva o homem à perfeição e que garante ao homem dedicado à finitude a visão do céu; que lhe dá a possibilidade de falar da realidade de Deus e da sua relação de amor com ele. Recebemos um poder, o poder do Espírito Santo que desce sobre nós. Tornamo-nos então os Seus testemunhos em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até às extremidades da terra. Sabemos que no dia de Pentecostes, os discípulos e apóstolos do Senhor "e todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem." (6) Sabemos que, cheio do Espírito Santo, Pedro pregou aos chefes e os anciãos de Israel que se encontravam em Jerusalém, afirmando que não existe nenhum outro meio de salvação, que não existe nenhum outro nome sob o céu dado aos homens pelo qual é necessário ser salvo. (7) Sabemos que não somente Pedro, mas todos os apóstolos foram cheios do Espírito Santo e anunciavam com ousadia a palavra de Deus; (8) que a Igreja multiplicavam sobre toda a extensão Judeia,da Galileia e Samaria, graças ao apoio do Espírito Santo. (9) Os Actos dos apóstolos dizem que o Espírito Santo estabeleceu pastores para guardar a Igreja de Deus que adquiriu pelo seu próprio sangue. (10) Em todas as assembleias litúrgicas, em todos os ofícios e litúrgias divinas, é celebrada a liturgia do Verbo onde as leituras das epístolas apostólicas e evangélicas que ensinam o povo piedoso e fiel de Deus tudo o que Jesus fez, ensinou e legou aos apóstolos pelo Espírito Santo. A escolha das leituras caracteriza a festa do dia e, muito frequentemente, os domingos, a presença e a operação do Espírito Santo repetem-se na vida da Igreja. Assim, por exemplo, durante este ano, o Domingo 7 de Janeiro, na epístola apostólica, é feita menção ao sacramento do baptismo, ao baptismo de conversão e ao baptismo em nome do Senhor Jesus. A imposição das mãos pelo apóstolo Paulo faz vir o Espírito Santo sobre os baptizados. (11) Na leitura evangélica do mesmo Domingo, que fala do baptismo do Senhor, João dá o seu testemunho dizendo: "Vi o Espírito,descer do céu como uma pomba, e repousar sobre ele (...) sobre o qual verás o Espírito descer e repousar sobre ele, esse é o que baptiza no Espírito Santo." E eu vi, e tenho testificado que este é o Filho de Deus " (12) O Domingo 4 de Fevereiro, na primeira epístola aos Coríntio 6, 12-20, lemos a mensagem do apóstolo Paulo sobre o significado do nosso corpo: "Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo?" (...) ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo(...)?"glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, que são de Deus." (13) O nosso corpo é membro de Cristo, o corpo é templo do Espírito Santo e o Espírito Santo reside em nós. A intervenção do Espírito Santo no facto do nascimento, da encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo, é testemunhada na passagem evangélica do Domingo 25 de Março, a festa da Anunciação da Mãe de Deus: "Maria não temas, porque achaste graça diante de Deus." Eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus. (...) E disse Maria ao anjo:Como se fará isto, visto que não conheço varão? E, respondendo o anjo, disse-lhe:Descerá sobre ti o Espírito Santo,e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra;pelo que; também o Santo, que de ti há-de nascer, será chamado Filho de Deus." (14) Na leitura evangélica do Domingo de Tomás, a 15 de Abril, Jesus Cristo aparece aos Seus discípulos, enquanto que, por temor dos Judeus, estes encontravam-se numa casa cujas portas eram aferrolhadas. Diz-lhes: "a paz esteja convosco". (15) , Nos seus serviços litúrgicos, a Igreja repete esta expressão do Senhor "paz a todos", de modo que, no coração dos crentes resida para sempre o sentimento sublime da paz, como Cristo a entende, mostrando aos homens o meio para se libertarem da perturbação e da confusão. A sua segunda palavra é: "Recebei o Espírito Santo;" Àqueles a quem perdoardes os pecados, lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos". (16) Desta maneira, Ele envia os apóstolos ao mundo para anunciar e realizar a presença do Senhor. "assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós " (17) e dou-vos o Espírito Santo que pelo poder do qual realizareis a vossa missão. Eis o que ensina a Igreja sobre o Espírito Santo, como nosso Senhor Jesus Cristo nos legou, falando reiteradas vezes da presença e da operação do Espírito Santo no mundo. Presença invisível, ela não é menos essencial na realização do homem, à sua iluminação e "deificação", para citar Gregório de Nazianzo. Contudo, a análise profunda da terceira Pessoa da Santíssima Trindade é feita nos salmos e orações da Igreja para o dia de Pentecostes, orando em em assembleia, sob a iluminação do Espírito Santo, o povo de Deus confessa a sua fé profunda em nome do Espírito Santo que perpetua a presença de Deus no mundo até ao final dos séculos. No dia de Pentecostes, o coração dos homens canta com voz de estentor: "vimos a luz verdadeira, recebemos o Espírito celestial, encontrámos a fé verdadeira adorando a indivisível Trindade, porque foi ela que nos salvou". (18) Iluminada pela luz do conhecimento verdadeiro, a Igreja define a sua doutrina em traços largos servindo-se de fórmulas lapidares. Na divina liturgia, oferece ao seu povo a sua teologia consumada; e o mundo, por sua vez, recebe e ora ao mesmo tempo. Ela reconhece que pelos profetas, o Salvador anunciou a via da salvação, que em Seus apóstolos brilhou a graça do Seu Espírito e confessa: "És Deus e habitas após eles: pelos séculos dos séculos és o nosso Deus ". Dizemos que a teologia, a Palavra de Deus, é reservada aos especialistas, a um número restrito de pessoas, e que o povo satisfaz-se de coisas simples e essenciais sobre Deus. Contudo, o povo de Deus possui o conhecimento da teologia pelos serviços litúrgicos da Igreja. Possui a certeza da presença viva no seio do Deus Trinitário. No hino de Pentecostes, ouvimos: "vinde, todos os povos, adoremos em três pessoas o Deus único, no Pai o Filho com o Espírito Santo, porque o Pai gera o Filho fora do tempo, compartilhando o mesmo trono e a mesma eternidade, e o Espírito Santo está no Pai, glorificado com o Filho, uma só potência, uma só divindade (...)" (20) . Por qual outro meio teológico, seria possível exprimir a fé em Deus e na Sua Igreja, excepto na assembleia orante na celebração regular dos mistérios divinos! Na liturgia, cria-se a atmosfera sagrada do conhecimento e da elevação da alma, sopra a brisa do Espírito. Aqui, o povo de Deus constata, de acordo com o salmo, que "todos os povos viram maravilhas neste dia na cidade de David, quando o Espírito Santo desceu sob forma de línguas de fogo, como São Lucas nos contou". Ora, ele diz: "Os discípulos de Cristo que se encontravam reunidos, de repente ouve-se do céu um estrondo violento e surge uma tempestade de vento , e este barulho enche toda a casa onde se encontravam sentados;" e todos, começam a falar línguas estrangeiras, para ensinar a doutrina nova da Santíssima Trindade ". (22) A nova palavra é esperada neste dia de criação da Igreja. Hoje, o Espírito Santo é percebido e vivido como luz e vida, como água viva que brota misticamente; é o espírito de sabedoria, de ciência, de bondade, de rectidão, inteligência soberana purificadora dos pecados; é Deus e desafia-nos; é fogo brotando do fogo de Deus, falando e agindo, ele espalha os carismas. A torrente destas propriedades do Espírito Santo, que a Igreja canta, transporta a alma humana da terra ao céu, da natureza corruptível e acabada à natureza incorruptível e eterna de Deus. No dia de Pentecostes, é o Senhor que domina certamente, ele que, de acordo com a oração que pareceria delírio, é imaculado, incorruptível, infinito, invisível, inacessível, inexplicável, imutável, insuperável, incomensurável, indulgente. Enviou o Espírito Santo sobre os seus santos discípulos e apóstolos; e o Espírito repousou sobre cada um deles, e todos, foram repletos da Sua graça inesgotável, para dizer Suas maravilhas em outras línguas e profetizar. E os seus humildes servidores, tão dignos de condenação, prostrenam-se diante Dele e confessam : "Nós pecámos." Confessam ao Senhor ter sido confiados a partir do nascimento, desde o Seu seio maternal , o seu Deus. Pedem perdão, a purificação dos seus pecados pela acção do Espírito Santo. É esta contrição do coração que a Igreja exprime no dia de Pentecostes. Afirma a presença do Espírito Santo no seu seio. Nesta qualidade, tem por missão guiar e santificar o homem, apoiá-lo na investigação da sua identidade cristã e de lhe dar a possibilidade de extrair nas suas forças para conhecer a verdade, para obter a salvação da sua alma. Naturalmente, existem outros elementos importantes, reveladores da presença e da acção do Espírito Santo na Igreja. Certamente, o Espírito Santo constitui a continuidade da Revelação divina, mas também a sua conclusão. A presença de Deus no mundo é perene pelo Espírito Santo. Contudo, uma parte do mundo não recebe a graça infinita que Deus lhe ocasiona. Tapa os ouvidos e os olhos para não escutar nem ver as maravilhas da presença de Deus entre nós. Em contrapartida, os homens de Igreja, os seus membros fiéis, estão perfeitamente conscientes da presença de Deus no seu seio. Participam e confessam a sua fé em Deus adorado na Trindade e, oram certamente cada dia, manhã e noite, em todo o tempo, de modo que o Espírito Santo conceda o seu apoio e protecção. Cantam todos em coro" Rei Celestial, Consolador, Espírito da Verdade, que estás presente em todo lugar e tudo preenches. Tesouro dos bens e Doador da Vida, vinde habita em nós e purifica-nos de todas impurezas, salva as nossas almas ó Deus de Bondade " (23) . O Espírito Santo é Deus entre nós, o Alfa e o Ómega, a verdade e a perfeição da vida. É por isto que o Senhor nos declara no Evangelho segundo são Mateus: "Todo o pecado e blasfémia se perdoará aos homens , mas a blasfémia contra o Espírito Santo não será perdoada." E se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do homem, ser-lhe -á perdoada; mas se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado nem neste mundo nem no mundo a vir ". (24) Fiquemos portanto na Igreja das crianças fiéis aos mandamentos de nosso Senhor Jesus Cristo e na soberania do Espírito, todo santo, sem princípio nem fim.
1 Jo 4,8.
2Ep 3,17.
3 C.He 5,12-14
4 Jo 14,15-17.
5 Ac 1,8.
6 Ac 2,4.
7 Ac 4,8.
8 Ac 4,31.
9 Ac 9,31.
10 Ac 20,28.
11 Ac 19,1-8.
12 Jo 1, 29-34.
13 Lc 15, 11-32.
14 Lc 1, 34-38.
15 Jo 20, 19.
16 Jo 20, 21-23
17 Jo 20,21.
18 Vesperas de Sábado
19 idem.
20 Vesperas de Domingo t.3.
21 Vesperas de Domingo t.4
22 idem.
23 idem.
24 Mt 12, 31-32
Traduzido e adaptado para Portugês por Padre Alexandre Bonito ,Igreja Ortodoxa Grega ,Maio de 2007
“SANTÍSSIMA TRINDADE, PAI, FILHO, ESPÍRITO SANTO…”
Fátima 9-12 Maio 2007
Revelação e Doxologia
Dia 9 - Tarde
14h00 – Acolhimento
14h30 – Abertura do Congresso
Moderador: P. Peter Stilwell
15h00 – Introdução
15h10 – Incarnação do Filho, revelação do Pai, envio do Espírito| P. José Tolentino
16h00 – Intervalo
16h30 – “Ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo”. A oração trinitária na Liturgia | Marie-Anne Vanier
17h20 – O Símbolo dos Apóstolos, credo de fé trinitária. Testemunho da liturgia baptismal antiga | P. Noronha Galvão
18h10 – Debate
19h00 – Fim dos trabalhos
19h30 – Eucaristia
21h30 – Serão cultural
Dia 10 – Manhã
Fé no Deus trinitário como correctivo da tentação gnóstica
Moderador: P.Jorge Cunha
09h00 – Introdução
09h10 – A Trindade Santíssima em Santo Ireneu | P. Joaquim Bragança
10h00 - Oposição do Evangelho de S. João contra a ameaça da gnose. Perspectivas segundo a visão de St. Ireneu de Lyon| Mons. Hans-Jochen Jaschke
10h50 – Debate
11h20 – Intervalo
11h40 – Actualidade da fé trinitária como discernimento perante novas formas de gnose | P. Réal Tremblay
12h30 – Debate
13h00 – Almoço
Crer para entender
Dia 10 - Tarde
Moderador: P.Jacinto Farias
15h00 - Introdução
15h10 - Tradição grega: a Unidade na Trindade divina | Mgr Jérémie Kaligiogis
16h00 – Tradição latina – St. Agostinho: o fascínio do Deus Trindade | José Rosa
16h50 – Debate
17h20 – Intervalo
17h50 – São Tomás de Aquino: da Trindade à Trindade?| Fr. Emmanuel Durand
18h40 – Debate
19h00 – Fim dos trabalhos
19h30 – Eucaristia
21h30 – Serão cultural
Dia 11 – Manhã
Uma revolução conceptual: unidade de comunhão plural, pessoa como relação subsistente.
Moderador: P. Noronha Galvão
09h00 – Introdução
09h10 A interpretação de Karl Rahner | João Duque
10h00 – A visão de Hans Urs von Balthasar| Manuela de Carvalho
10h50 – Debate
11h20 – Intervalo
11h40 – Monoteísmo e fé cristã trinitária. A possibilidade de pensar a fé no Deus unitrino | Helmut Hoping
12h30 – Debate
13h00 – Almoço
Fonte de amor, luz e vida
Dia 11 – Tarde
Moderador: P. Pio Gonçalo de Sousa
15h00 – Introdução
15h10 – Maria à luz do mistério trinitário de Deus | P. Stefano de Fiores
16h00 – Da comunhão trinitária à Igreja mistério da comunhão| P. Nicola Ciola
16h50 – Debate
17h20 – Intervalo
17h50 – Personalização socializante e socialização personalizante, segundo a antropologia cristã| P. Santiago del Cura
18h40 – Debate
19h00 – Fim dos trabalhos
19h30 – Eucaristia
21h30 – Serão cultural
Dia 12 – Manhã
Devoções e revelações particulares no contexto do sensus fidei da comunidade eclesial
Moderador: P. João Beato
09h00 – Introdução
09h10 – A Santíssima Trindade na devoção tradicional portuguesa: iconografia e cânticos religiosos| D. Carlos Azevedo
10h00 – Dimensão escatológica trinitária do Culto do Espírito Santo | D. Manuel Clemente
10h50 – Debate
11h20 – Intervalo
11h40 – A Santíssima Trindade nas aparições e na espiritualidade de Fátima| D. António Marto
12h30 – Debate
12h50 – Encerramento do Congresso
Comissão Científica:
Noronha Galvão (Presidente UCP)
P. João Beato (UL)
José Rosa (UBI)
P. Armindo Janeiro (Secretário)
Conclusões do Congresso sobre a Santíssima Trindade
FÁTIMA
NOTA À IMPRENSA
Decorreu, por estes dias, mais um Congresso Internacional organizado pelo Santuário de Fátima. Por ocasião da celebração dos 90 anos das aparições e sob a inspiração da aguardada nova igreja do Santuário, o Congresso propôs-se reflectir e meditar acerca da Santíssima Trindade, mistério nuclear e próprio da fé cristã. Nele se reuniram cerca de 300 congressistas para escutar e debater com vários especialistas, portugueses e estrangeiros (oriundos de Espanha, França, Itália, Alemanha, Grécia e Canadá), acerca das raízes, desenvolvimento, actualidade e implicações da fé no Deus Trindade.
A reflexão desenvolveu-se desde estudos acerca da Sagrada Escritura até a abordagens contemporâneas no Mistério Trinitário (dos teólogos K. Rahner e H. U. von Balthasar), passando pela experiência e linguagem litúrgicas, pelo esclarecimento e desenvolvimento da profissão da fé cristã no cristianismo dos primeiros séculos – em polémica com os movimentos gnósticos –, pelas distintas mas complementares acentuações entre ocidente e oriente cristãos (sobretudo ortodoxo). Houve ainda oportunidade de reflectir acerca da significação actual deste aspecto constituinte da fé cristã e das implicações que dele decorrem para o modo de olhar a Igreja, o mundo e o homem como «imagem e semelhança de Deus».
As aparições e a mensagem de Fátima revelaram-se particularmente fecundas para a reflexão empreendida neste Congresso. Na verdade, reconhecida a dificuldade de abordar a Trindade, pôde-se perceber, com o decorrer dos trabalhos, como a experiência do encontro com Deus feita pelos pastorinhos e a sua linguagem simples mas impregnada de «gozo e amor a Deus», concorrem para o esforço que os cristãos assumem de «dar as razões da sua esperança» (cf. 1Pe 3, 15), ganhando assim uma luz sempre nova a exclamação de S. Agostinho: «Vês verdadeiramente a Trindade se vês o Amor».
SÍNTESES CONCLUSIVAS
Destes dias de reflexão e trabalho poderemos extrair os seguintes aspectos conclusivos:
1)Reconhecer a pluralidade, a complementaridade e a interacção das vias para aceder ao Mistério do Deus Trindade – da experiência mística à busca sistemática de uma aprofundada inteligência da fé; da vida litúrgica às manifestações populares dos crentes; do exercício mais especulativo à singular experiência dos videntes de Fátima.
2)Esta pluralidade de vias é reflexo do excesso deste Mistério que tratamos – elas são abordagens de uma realidade que sempre nos ultrapassa e que, portanto, requer humildade crente a quem ousa aproximar-se dele.
3)A consciência da desproporção entre a grandeza do Mistério de Deus e a limitação dos recursos de quem sobre ele se debruça, não nos demite de reflectir, de meditar e de ter sobre ele um discurso – paradoxalmente, a consciência dos limites é essencial para que se possa aprofundar o sentido do Mistério confessado.
4)A experiência litúrgica e, em concreto, a linguagem doxológica emergem como «a fonte e cume» onde as diversas vias de abordagem da Trindade se encontram – reconhecer o lugar axial da lex orandi – lex credendi na integração dos aspectos diversos da experiência crente.
5)O Mistério trinitário é esclarecido «sub lumine Dei», luz que é transversal aos vários modos e tempos de encontro com a Trindade – sob a luz da Palavra, encarnada e escrita; sob a luz da experiência mística e litúrgica; sob a metáfora da luz com que os Padres da Igreja fazem entender a vida e as processões trinitárias; sob aquela luz que inundou e «encheu de gozo» os pequenos pastores de Fátima.
6)A teologia trinitária recebe do próprio Deus Amor a sua suprema fecundidade – Deus definitivamente revelado no Mistério Pascal, o Filho glorificado e o Espírito enviado: Ubi crux, ibi Trinitas.
7)A experiência dos videntes de Fátima revela-se fecunda para a descoberta do Amor de Deus: a beleza da luz refractada como imagem trinitária; a iniciação evolutiva dos pastorinhos ao Mistério trinitário; Deus na origem das aparições e que, no seu desenvolvimento e fecho, se vai manifestando como Deus Trindade.
8)Núcleo da regra da fé eclesial, a Trindade é a figura (Gestalt) concreta do monoteísmo cristão – a clareza deste traço da fé cristã permite ver como é ele que aproxima, mais do que separa, as diversas denominações cristãs; permite ainda encontrar na relação com outras religiões, monoteístas ou não, aquela consciência da própria identidade que torna o diálogo possível.
9)Nas aparições de Fátima faz-se a experiência de um Deus «contristado», isto é, um Deus compassivo para com a humanidade que lhe é infiel – é, no fundo, uma exortação à opção fundamental do Homem por Deus.
10)A confissão trinitária é uma perene proclamação da concretude e historicidade da fé cristã, bem como da pessoalidade e relacionalidade do Deus revelado, encarnado e tri-pessoal – actualidade manifestada na crescente recusa de um deus frio e puramente racional, próprio do modelo teológico deísta.
11)A confissão trinitária é ainda a resposta cristã – teológica e experiencial – quer ao paradigma modalista e/ou monista da realidade de Deus prevalente em certas correntes da Modernidade quer às formas contemporâneas com que se revestem as doutrinas gnósticas.
12)São vastas e fecundas as implicações da fé trinitária – a antropologia marcada pelo Mistério trinitário e o Homem como o caminho para Deus; a Igreja como ícone do Deus Trindade, tendendo para uma plenitude escatológica de comunhão.
13)Da identidade amorosa de Deus decorre a decisiva implicação espiritual da fé trinitária – e por isso plenamente teológica e pastoral – e, ao mesmo tempo, o critério fundamental de verificação da validade de um discurso acerca da Trindade: a caridade – Ubi caritas, Deus (Trinitas) ibi est.
«Da luz – o Pai – nós conhecemos a luz – o Filho –
na luz – o Espírito; teologia breve e simples da Trindade»
S. Gregório de Nanzianzo, Discurso 31.
(Pela Comissão Científica, H. Noronha Galvão)